Resumo: É hoje notório como as redes sociais digitais redefinem os espaços onde nos situamos e interagimos. Sob novas regras e com potencialidades inéditas, é em espaços como o Facebook ou Instagram que se “joga” uma parte significativa da apresentação do “eu” perante os outros. Com efeito, a própria evolução destes espaços tem vindo a equipá-los com um amplo conjunto de ferramentas ou dispositivos adequados a esse “jogo”: à construção de guiões e narrativas para exibição daquilo que alguns designam como “portais da identidade”.
A compreensão deste fenómeno pode ser feita a partir da microssociologia do quotidiano e da análise das práticas de interação mais comuns nas “redes sociais digitais”. A partir desse enquadramento, é hoje possível formular um conjunto muito preciso de questões, de inquestionável atualidade: como se desenvolve o trabalho de construção da identidade nestas novas plataformas de interação social, tornadas possíveis pela Internet? Como é que as pessoas se ligam através das “redes sociais digitais”, e que e feitos produz esse modo de ligação sobre si próprias e sobre a sua identidade pessoal? Quando as redes sociais online viabilizam o “jogo” de construção da(s) identidade(s), fazem-no de um modo neutro ou, ao invés, condicionam esse “jogo”, definindo os termos em que ele pode ser “jogado”?
A resposta a estas interrogações evidencia como a autoidentidade é submetida a uma apreciação e a uma valoração por parte de um determinado grupo de indivíduos (a “rede”), o qual, de forma mais ou menos explícita, atua como mecanismo de inspiração e de validação do “papel” que representamos. Uma perceção pouco original, e consistente com toda uma vasta tradição sociológica; todavia, com efeitos inéditos, ampliados pelo inegável potencial das novas ferramentas tecnológicas.