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"Almeida Faria, uma voz singular" — Cristina Robalo Cordeiro
   25 de Fevereiro - 17 horas
Ciclo de conferências IEAAM «100 anos de prosa»

Resumo: Escritor, homem de cultura, filósofo, crítico de arte, Almeida Faria reúne em si todos os talentos de um verdadeiro pensador do mundo português e da nossa época. De facto, ninguém como Almeida Faria, profundo conhecedor da nossa história, dos grandes e pequenos momentos que foram guiando a nossa imagem, soube pensar Portugal, recriando-o pela palavra: o país que somos e construímos nas últimas 5 décadas, criticamente revisitado e lido à luz de mitos e de símbolos que configuram de forma indelével uma identidade nacional, encontra na sua obra a sua expressão mais lúcida e mais sensível. O espírito de revolução social e política, a substância cultural e literária, o peso de uma tradição judaico-cristã, o motivo fundacional do sentido de aventura e de achamento a par da desesperança nostálgica de uma grandeza perdida são aqui restituídos no tom justo e lúcido (irónico muitas vezes) de um amor sem pieguice nem condescendência.

É inquestionável que o acto de ficcionar é nele inseparável do de pensar: e é por isso que a fantasia dos seus romances, na pureza de uma língua literária que o trabalho da escrita eleva à categoria de arte, recria a imagem de um país de corpo inteiro, na turbulência de uma época feita de contradições e de ambiguidades. 

A sua obra de ensaísta, romancista e dramaturgo, rigorosa no modo de conceptualizar a vivência humana e de problematizar a História, assente na conciliação do lógico e do sensível, da vivacidade intelectual e da ponderação reflexiva, da matéria e da transcendência, ocupa um lugar ímpar no panorama literário português contemporâneo. Criador sujeito a todas as violências dionisíacas do inconsciente, crítico vigilante, dolorosamente obcecado pela perfeição formal e pela clareza racional, Almeida Faria pertence a uma rara categoria de escritores menos feitos para satisfazer os apetites do grande público e a voracidade fugaz da mediatização do que para tocar os leitores mais exigentes e ainda sensíveis à grandeza da Literatura.