Nas figuras femininas criadas por Hélia Correia, o movimento circular da dança, o ímpeto constante de evocação do culto dionisíaco, a celebração erótica da morte e a tensão constante entre os planos da vida e da pós-vida reinventam a noção de figura fantasma, espelho do próprio texto. As heroínas de Hélia Correia afirmam-se na sua vertente já não humana, alcançando um estatuto híbrido, renovando-se a partir do regresso à terra, a um modelo de existência pós-humano.
Ainda que vinte e sete anos separem a primeira edição de Perdição. Exercício sobre Antígona (1991) e Um Bailarino na Batalha (2018), em ambas as obras, as diversas temáticas centradas nas figuras femininas, recorrendo a estratégias intertextuais diversas, contribuíram para a criação de uma obra que se expressa por um certo radicalismo da linguagem, irreverência na interpretação, abrindo novas perspetivas de leituras no feminino.
É nesta realidade temática que se enquadram as grandes figuras míticas da antiguidade clássica (Antígona, Helena e Medeia) ou todas as mulheres que, ainda que encobertas por uma aparente atualidade e insignificância identitária, são elementos que representam estratégias intertextuais que nos reconectam ao universo mitológico da Grécia.