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Classe de Letras — Mário Vieira de Carvalho
   26 de Setembro - 15 horas
"'Offenbach é uma filosofia cantada!' - Ecos de 'óperas burlescas' representadas em Lisboa em meados do século XIX (No bicentenário do compositor.)"

Resumo: O teatro de Offenbach chega a Lisboa, no início de 1868, como uma vaga avassaladora. Em um ano, são estreadas sucessivamente em vários teatros cinco óperas ditas “burlescas” de Offenbach. Representadas em língua portuguesa por alguns dos mais famosos comediantes, constituem um enorme êxito popular. 

No entanto, em Lisboa, tal como em Paris, o teatro de Offenbach é um evento fraturante. Por um lado, suscita um verdadeiro processo de apropriação cultural, socialmente transversal e libertador de energias criativas locais, que desde logo se manifesta em numerosas adaptações e paródias livremente inventadas a partir da música original. Por outro lado, é atacado violentamente pelos defensores do cânone estabelecido quanto aos critérios do «bom gosto», do «belo» ou da «grande arte».

Em todo o caso, até ao início do século XX  sucedem-se em Lisboa as estreias ou reprises de óperas de Offenbach. Sem contar com o repertório apresentado em tournées de companhias francesas, italianas e espanholas, são mais de vinte títulos diferentes produzidos em língua portuguesa. A difusão Offenbach no teatro amador é também considerável, como resulta da inclusão de várias das suas obras cénicas ou de trechos delas extraídos nas coleções de teatro popular e “de agrado certo”.

Importa sublinhar o aspeto político, fortemente marcado, da repercussão de Offenbach. A Grã-Duqueza de Gerolstein, estreada no Teatro do Príncipe Real (1868), numa tradução de Eduardo Garrido, inspira imediatamente panfletos cómicos com coplas a propósito da atualidade política, justamente para serem cantadas em casa ou nos salões (“estrofes de atualidade”).

Tal o contexto em que sobressaem as relações de “intertextualidade”, ou melhor, de “intermedialidade” (envolvendo música, literatura e desenho), que têm como denominador comum a caricatura. Seus principais protagonistas são Bordalo Pinheiro e Eça de Queirós, para quem Offenbach era “uma filosofia cantada”.